Jair A. Pauletto
O Singular do Plural
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 Peleia Histórica em Nova Bassano.

Desde 1891, quando as primeiras 30 famílias de imigrantes originárias de Bassano, norte da Itália, fundaram um pequeno núcleo colonial, além do Rio das Antas, na Serra Grappa, em homenagem à terra natal, atual cidade de Veranópolis, não se tem notícias de um acontecimento que tenha despertado tanto interesse naquela população.

O caso que pretendo narrar ainda não foi superado e, há quem duvide que isso venha a se repetir por aquelas bandas. Alguns dizem, que em toda a história do Rio Grande do Sul, só houve um caso semelhante lá no Alegrete, mas, assim como este, também não há comprovação. Sendo assim, peço desculpas antecipadamente ao caro leitor, por me prolongar um pouco na narração inicial, isto é, preciso ambientá-los ao local do ocorrido e também para que compreendam melhor o causo.

 Essa localidade, onde mais de um século depois, ainda preserva a herança histórica dos colonos pioneiros e seus costumes históricos, que se tornou município em 1964. Estende-se às margens da RS 324, entre Nova Prata e Nova Araçá. Ao entrar pela avenida principal da cidade ou passando pela auto-estrada, destaca-se a enorme igreja matriz, símbolo da religiosidade de seus habitantes. A igreja distingue-se ainda mais pela torre lateral de 30 metros de altura, onde um relógio anuncia, desde 1938, às horas e os dias dos descendentes da antiga Bassano Del Grappa.

Essa pequena cidade possui um dos mais elevados IDH - Índice de Desenvolvimento Humano -  do estado e do país. Basta um pequeno giro pela cidade e pelas colônias para ver que, através do trabalho dos colonos, se desenvolveu uma bela cidade para se viver e prosperar.

Ainda hoje, na delegacia, onde foi colhido o depoimento do ocorrido, historiadores procuram pelos registros. Alguns moradores juram que uma cópia do depoimento está guardada na casa de um dos moradores da linha Silva Jardim, descendente do proprietário do estabelecimento onde tudo ocorreu. Mas, como tal documento ainda não foi divulgado e, sequer encontrado, só me resta fazer a transcrição dos fatos narrados a boca pequena, nos finais das tardes de domingo, em muitas capelas do interior daquela região.

A versão aceita como verdadeira inicia com o delegado inquirindo o depoente:

 - O senhor foi chamado para depor sobre a violenta briga acontecida ontem no seu armazém. Teve oito mortos, doze feridos...Uma barbaridade, não?

 - No meu armazém, seu delegado? Quem sou eu para ter armazém? O armazém é do Polaco Zeferino, que foi mascate. E, por sinal...
             - Não desvie do assunto. Quero que me digas como e porque começou a briga?
             - Buenas, pois então, historiemo a coisa. Domingo, como o senhor sabe, a minha bodega fica de gente que nem corvo em carniça de vaca atolada. O doutor entende; depois da missa o pessoal gosta de um joguinho de carta - quatrilho ou bisca, loucos por uma água que passarinho não bebe, por uma conversa sobre os preço do leite, dos porco, dos tomate.... A minha graspa é da pura, não batizo com água de poço como o polaco Zeferino. Que por sinal...
             - Continue, continue, deixe o polaco em paz.
            - Pois então, bamo reto pro assunto. Tavam uns trinta home tomando umas que outras, já os Nono, tavam jogando briscola, e uns, mascando salame pra enganar o bucho, quando chegou o Bugre. O senhor sabe, ele é mais metido que dedo em nariz de piá, deu um planchaço de adaga no balcão e perguntou se havia home no bolicho. Todo mundo coçou as bolas. Home tem bola, o senhor sabe né!

O Darci - que não é flor de cheirar com pouca venta - disse que era com ele mesmo, deu de mão numa tranca e rachou a cabeça do Bugre. Um contraparente do Bugre não gostou do brinquedo e sentou a argola do mango no Darci. Pegou lá nele, nos óio, e o Darci saiu ganiçando como cusco, que levou água fervendo pelo lombo.

Um amigo do Darci se botou no contraparente do Bugre - que já tava batendo a perninha - e enfiou palmo e meio de ferro branco no sovaco do cujo, que lhe chamam Zé Brabo. Um irmão do Zé Brabo, chateado com aquilo, pegou um peso de cinco quilos da balança e achatou a cabeça do home, que faqueou o Brabo, fazendo que os óio dele sartassem, seu doutor.

E eu só olhando, achando tudo aquilo um tempo perdido. Um primo do homem do ferro branco rebuscou um machado no paiol e golpeou o irmão do Zé Brabo. Errou a cabeça, pois só conseguiu atorar o braço do vivente.

Aí eu fui ficando nervoso, puxei meu berro pro mole da barriga, pronto pra um quero. Meu bolicho é casa de respeito, seu delegado, e a brincadeira já tava ficando pesada.

Mas bueno, foi entonces que o Miguelão se alevantou do banco, palmeou uma carneadeira, chegou por trás do homem do machado, pé que te pé, grudou ele pelas melena e degolou o vivente num táio. Era a coisa mais linda de se vê. O sangue jorrou longe como mijada de cuiúdo.

Aí, eu e mais uns outros - tudo home de respeito - se arrevoltemo com aquilo. Brinquedo tem hora, o senhor não acha?
   - Acho, sim. Mas e ai?
   - Pois, como lhe disse, nós se arrevoltemo e saquemo os talher. E, foi aí que começou a briga...

            Se alguns dos leitores souberem de algum fato que possa levar ao depoimento original, peço encarecidamente que façam contato, para que possamos esclarecer definitivamente este triste episódio e, resgatar a verdade para a pequena e ordeira cidade.
 

Jaìr A Paùlétto
Enviado por Jaìr A Paùlétto em 27/08/2007
Alterado em 23/04/2013
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