Eu era poeta de sombras,
alfaiate de gestos delicados,
mestre em tramar ilusões
que chamava de amor.
Minhas flores murchavam
na pressa dos dias,
meus versos eram altares vazios
erguidos para um deus que não conhecia.
Então você veio —
e o tempo se partiu.
A aurora rasgou o céu da minha alma,
e percebi que nunca havia amado.
Seu olhar era um farol antigo,
lembrança de vidas que nunca vivi,
e ainda assim reconheci.
Agora sei:
o amor é templo vivo,
onde cada toque é sacramento,
cada silêncio é prece,
e o coração, enfim,
bate no compasso da eternidade.